quarta-feira, 12 de maio de 2010

sem título

mais que todas as coisas
esse era um domingo comum.
e eu, como normalmente, cheio
de domingos, fiquei sem nem
mexer ou piscar
com o corpo estendido
na diagonal direita
da cama de casal
que antes era da minha mãe
feito essa gente
que vê a vida passar
e pronto.
e se fosse isso?
e não fosse aquilo?
nada daquilo?
e se não bastasse?
fosse de repente?
nada mais fizesse sentido
nem estirar o corpo
enquanto a morte ia crescendo
invadinho todas as frestas
do meu quarto.
o namorado na sala
comendo a outra metade
da comida que eu pedi.
pensando, se é que era
na morte da bezerra
ou em nada
porque embora fosse tudo
isso
resultado de um pensar incansável
e persistente e incessante
gostava mesmo
era de esvaziar a cabeça de tudo
como forma de ficar livre
um tempo
mas quando se mora no centro
em dia de clássico de futebol
se quer ir pro meio do mato
onde há o silêncio
porque o silêncio também é
coisa que ajuda a deixar
a cabeça oca
ou o contrário?
no silêncio absoluto
do absoluto
com quais idéias a gente
vive? e anda.
sei dizer não.
outro dia fiquei tentando
pensar num lugar que não
se ouvisse ruído de vida
sequer que fosse
mas até no deserto
de um deserto
a gente deve ouvir o vento.
que jeito é esse
de ser vazio?
esquecer da porta
e das frestas da porta
por onde a morte rompe
o silêncio também
e o namorado que já volta.
se todas essas coisas
simplesmente desbotassem
eu passaria por passar
assim passando
a me importar com coisas de grande importância
como as formigas.

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